"Quem é esta mulher, Maria de Nazaré, que viveu há dois mil anos numa aldeia desconhecida da Galiléia, que resiste ao esquecimento do tempo e à inexorável corrupção das coisas e da memória? A sua figura ficou impressa nos corações e na fantasia de gerações, a ponto de se transformar na personagem mais amada, mais invocada, ponto de encontro de tudo o que é belo, doce, amável, fonte inspiradora de todos os sentimentos que exaltam o espírito humano. Pintores e escultores, poetas e escritores de todos os séculos esmeraram-se por celebrá-la com obras que enchem pinacotecas, museus, bibliotecas e centros de cultura de todo o mundo."



SEJAM BEM VINDOS , QUE MARIA DE NAZARETH NOS ABENÇOE SEMPRE!






terça-feira, 7 de junho de 2011

A ESCRAVA DO SENHOR


 Quando João, o discípulo amado veio ter com Maria, anunciando-lhe a detenção do Mestre, o coração materno, consternado, recolhe-se ao santuário da prece e rogou ao Senhor Supremo poupasse o filho querido. Não era Jesus o Embaixador Divino? Não recebera a notificação dos anjos, quanto a sua condição celeste?... Seu filho amado nascera para a salvação dos oprimidos... Ilustraria o nome de Israel, seria o rei diferente, cheio de amoroso poder. Curava leprosos, levantava paralíticos sem esperança. A ressurreição de Lázaro, já sepultado, não bastaria para elevá-lo ao cume da glorificação?
E Maria confiou ao Deus de Misericórdia suas preocupações e súplicas, esperando-lhe a providência; entretanto, João voltou em horas breves, para dizer-lhe que o Messias fora encarcerado.

A Mãe Santíssima regressou à oração em silêncio. Em pranto, implorou o favor do Pai Celestial. Confiaria nele.


Desejava enfrentar a situação, desassombradamente, procurando as autoridades de Jerusalém. Mas, humilde e pobre, que conseguiria dos poderosos da Terra? E, acaso, não contava com a proteção dos Céus? Certamente, o Deus de Bondade Infinita, que seu filho revelara ao mundo, salvá-lo-ia da prisão, restitui-lo-ia à liberdade.

Maria manteve-se vigilante. Afastando-se da casa modesta a que se recolhera, ganhou a rua e intentou penetrar o cárcere; todavia, não conseguia comover o coração dos guardas.

Noite alta, velava, em súplica, entre a angústia e a confiança.


Mais tarde, João voltou, comunicando-lhe as novas dificuldades surgidas. O Mestre fora acusado pelos sacerdotes. Estava sozinho. E Pilatos, o administrador romano, hesitando entre os dispositivos da lei e as exigências do povo, enviara o Mestre à consideração de Herodes.

Maria não pode conter-se. Segui-lo-ia de perto.


Resoluta, abrigou-se num manto discreto e tornou à via pública, multiplicando as rogativas ao Céu, em sua maternal aflição. Naturalmente, Deus modificaria os acontecimentos, tocando a alma de Ântipas.Não duvidaria um instante. Que fizera seu filho para receber afrontas? Não reverenciava a lei? Não espalhava sublimes consolações? Amparada pela convertida de Magdala, alcançou as vizinhanças do palácio do Tetrarca. Oh! infinita amargura! Jesus fora vestido com uma túnica de ironia e ostentava, nas mãos, uma cana suja à maneira de certo e, como se isso não bastasse, fora também coroado de espinhos!... Ela quis aproximar-se a fim de libertar-lhe a fronte sangrenta e arrebatá-lo da situação dolorosa, mas o filho, sereno e resignado, endereçou-lhe o olhar mais significativo de toda a existência. Compreendeu que Ele a induziu à oração e, em silêncio, lhe pedia confiança no Pai. Conteve-se, mas o seguiu em pranto, rogando a intervenção Divina. Impossível que o Pai não se manifestasse. Não era seu filho o escolhido para a salvação? Não era Ele a luz de Israel, o sublime revelador? Lembrou-lhe a infância, amparada pelos anjos... Guardava a impressão de que a Estrela Brilhante, que lhe anunciara o nascimento ainda resplandecia no Alto!...


A multidão estacou, de súbito. Interrompera-se a marcha para que o governador romano se pronunciasse em definitivo.

Maria confiava. Quem sabe chegara o instante da ordem de Deus? O Supremo Senhor poderia inspirar diretamente o juiz da causa.


Após ansiedades longas, Pôncio Pilatos, num esforço extremo para salvar o acusado, convidou a turba farisaica a escolher entre Jesus, o Divino Benfeitor, e Barrabás, o bandido. O coração materno asilou esperanças mais fortes. O povo ia falar e o povo devia muitas bênçãos ao seu filho querido. Como equiparar o Mensageiro do Pai ao malfeitor cruel que todos conheciam? A multidão, porém, manifestou-se, pedindo a liberdade de Barrabás e a crucificação de Jesus. Oh! - pensou a mãe atormentada - onde está o Eterno que não me ouve as orações? Onde permanecem os anjos que falavam em luminosas promessas?

Em copioso pranto, viu seu filho vergado ao peso da cruz. Ele caminhava com dificuldade, corpo trêmulo pelas vergastadas recebidas e, obedecendo ao instinto natural, Maria avançou para oferecer-lhe auxílio. Contiveram-na, todavia, os soldados que rodeavam o Condenado Divino.


Angustiada, recordou-se repentinamente de Abraão. O generoso patriarca, noutro tempo, movido pela voz de Deus, conduzira o filho amado ao sacrifício. Seguira Isaac inocente, dilacerado de dor, atendendo a recomendação de Jeová, mas, eis que no instante derradeiro, o Senhor determinou o contrário, e o pai de Israel regressara ao santuário doméstico em soberano triunfo. Certamente, O Deus Compassivo escutava-lhe as súplicas e reserva-lhe júbilo igual. Jesus desceria do Calvário, vitorioso, para o seu amor, continuando o apostolado da redenção; no entanto, dolorosamente surpreendida, viu-o içado no madeiro, entre ladrões.

Oh! a terrível angústia daquela hora!... Porque não a ouvira o Poderoso Pai? Que fizera para não lhe merecer a bênção?


Desalentada, ferida, ouvia a voz do filho, recomendando-a aos cuidados de João, o companheiro fiel. Registrou-lhe, humilhada, as palavras derradeiras. Mas, quando a sublime cabeça pendeu inerte, Maria recordou a visita do anjo, antes do Natal Divino. Em retrospectivo maravilhoso, escutou-lhe a saudação celestial. Misteriosa força assenhoreou-se-lhe do espírito.

Sim... Jesus era filho, todavia, antes de tudo, era o Mensageiro de Deus. Ela possuía desejos humanos, mas o Supremo Senhor, guardava eternos e insondáveis desígnios. O carinho materno poderia sofrer, contudo, a Vontade Celeste regozijava-se. Poderia haver lágrimas em seus olhos, mas brilhavam festas de vitória no Reino de Deus. Suplicara aparentemente em vão, porquanto, certo, o Todo-Poderoso atendera-lhe os rogos, não segundo os seus anseios da mãe e sim de acordo com os seus planos divinos!...


Foi então que Maria, compreendendo a perfeição, a misericórdia e justiça da Vontade do Pai, ajoelhou-se aos pés da cruz e, contemplando o filho morto, repetiu as inesquecíveis afirmações: - "Senhor, eis aqui a tua serva! Cumpra-se em mim, segundo a tua palavra!"


Fonte:

Livro Lázaro Redivivo, psicografado pelo médium Francisco Cândido Xavier, pelo espírito Irmão X.

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